Comer em viagens: necessidade ou parte da experiência?
Para mim, pode ser as duas coisas. Na mesma viagem.
Seja em casa, no trabalho, ou passeando, uma coisa é certa: as pessoas precisam comer. E quando se está em um lugar desconhecido, a dificuldade é obviamente maior, já que você não sabe quais são os lugares bons, as comidas que você gosta, os preços que se paga. Minha opinião é que, em geral, as pessoas em viagens encaram a alimentação de uma das duas formas: algo necessário, no qual o objetivo é gastar o mínimo de tempo e dinheiro possível, correndo pouco risco de não gostar; ou um momento que faz parte da viagem, do objetivo de conhecer mais a fundo aquele lugar e aquele povo.

Eu já fui essas duas pessoas. E entendo bem que depende muito não apenas do orçamento da viagem, mas também das prioridades de cada um. Na minha primeira grande viagem internacional (ou seja, sem contar busão de muamba pro Paraguai), eu e uns amigos fizemos um mochilão durante a faculdade: 13 países na Europa em 7 semanas (um post sobre essa viagem está programado). Pelo ritmo da viagem e pela época, dá pra saber que não queríamos gastar tempo nem dinheiro. Resultado: em absolutamente todos esses países (tá bom, exceto o Vaticano), nós fomos pelo menos uma vez no McDonalds. Tudo bem, uma parte foi pela diversão: tínhamos que chegar pedindo um Royale With Cheese na França. E o Big Mac é mesmo Le Big Mac.
O “problema” é que eu adoro experimentar comidas diferentes. Adoro trazer um livro de receitas dos lugares para onde vou e tentar refazer em casa o que gostei (normalmente com resultados pífios). E acho que, ao longo do tempo, consegui ir desenvolvendo algumas táticas de como misturar as duas coisas, sem fazer que nem um americano que fica reclamando de não ter Wendy’s em Paris, mas também não comprometendo a viagem em termos de tempo e dinheiro:
Programar com antecedência
Hoje é muito mais fácil não apenas saber quais restaurantes um lugar tem, quais os mais bem avaliados, que tipo de comida servem, e especialmente preços e disponibilidade próximo de onde você vai estar. Isso serve tanto para quem procura lugares mais em conta e não quer acabar entrando no primeiro McDonalds ou “tourist trap” que encontrar quanto para quem tem um restaurante que gostou e quer garantir que terá reserva para o dia que pode ir. Dependendo do restaurante que você sonha conhecer, seis meses ou até um ano antes já está esgotado.
Buscar alternativas locais
Esse tópico é meio que um desdobramento do anterior, mas uma coisa que eu gosto muito de fazer é provar o máximo possível de pratos e bebidas locais, que sei que provavelmente não vou encontrar mais em lugar nenhum na vida. Uma vez, na Arábia, perguntei a um colega de projeto saudita onde eu poderia comer algo bem local (a culinária lá tem muito do árabe que conhecemos aqui no Brasil, mas também muita influência da culinária indiana). Ele me indicou um restaurante em Riad, que era bom, não muito caro, e quando peguei o cardápio eles tinham carne de CAMELO. Pedi na hora, custou não mais que 50 reais, e vou dizer que gostei bastante.


Sites como o Taste Atlas também podem ser uma ajuda em identificar quais são os pratos e bebidas mais famosos daquele local, e sugerir restaurantes que sirvam. Como todo guia, não dá pra levar as coisas a ferro e fogo, mas pesquisar sempre me traz boas ideias.
Comprar em mercados ou lojas comuns
Em algum momento você vai passar por um mercado ou lojinha onde vai encontrar algo local, gostoso, ou que você quer experimentar. Leve na mochila, coma no caminho, ou deixe para o hotel, não importa, muitas vezes não tem como ser mais local (e barato) do que isso. Fuja do pacote de pão de forma e do galão de suco, ouse um pouco, procure algo que você não conhece. Mercados e lojas já não só me salvaram muitas refeições, como também me fizeram conhecer e experimentar coisas que de outra forma não teria.








Prever no orçamento e na programação uma ou duas “indulgências”
Já diz o antigo ditado de viagem: “quem converte não se diverte”. Com dólar e euro nos valores que estão, talvez segui-lo o tempo todo não seja prudente. Mas você tem aquele restaurante que sempre quis ir, que um amigo indicou, ou até algum que você descobriu, mas acha caro. Se você tem um orçamento de viagem, dê um jeitinho dele caber. 9 dias de fast food e 1 de jantar chique é mais legal que 10 dias de um lanche melhor no fastfood, e pode muito bem custar o mesmo. Em Paris, descobrimos que vários chefs famosos iam montar um restaurante temporário durante 100 dias bem no período que estaríamos na cidade. Fizemos a reserva e fomos, e foi um almoço sensacional que sabemos que nunca mais vamos poder ter.


Foi caro? Foi. Mas você não está gastando x reais em um jantar. Você está gastando y reais em uma viagem legal, que você lutou pra fazer, e que incluiu um jantar que você vai lembrar para sempre. Garanto.
Fugir do que você já come em casa
O contrário também é verdadeiro: o barato em uma viagem pode sair caro. Me disseram uma vez que “comer McDonalds na Europa é a refeição mais cara que você vai ter na vida: custou o preço do lanche mais o da passagem de avião”. E hoje eu penso por aí mesmo. Falei ali em cima da carne de camelo, mas já cansei de perguntar em restaurante “qual o prato da cidade que você me recomenda?” ou “tem alguma cerveja do país?”. Claro que tem lugares onde é mais complicado, talvez um vegetariano no leste europeu ou no Uruguai tenha dificuldade em pedir o prato local, ou você não sinta muita firmeza naquele gafanhoto frito de rua no Camboja, mas em geral há opções locais no preço do fast food e você volta pra casa tendo comido algo novo.








Não hesitar em aproveitar oportunidades
Muitos locais turísticos têm um restaurante ou café, e, embora boa parte deles sejam caros e ruins, já encontrei lugares legais. Se você vai a uma vinícola, normalmente elas têm um pacote com almoço/petiscos e vinhos, você aproveita uma visita que já vai fazer e emenda algo diferente. Ou você está em uma vizinhança que parece ter restaurantes legais, pode pesquisar qual o que você acha que vai gostar entre eles (você já pegou um chip pré-pago pra postar no Instagram, tenho certeza). E pode ser que nem sempre você ache, mas vale a pena procurar. Você já saiu de casa, enfrentou aeroporto, fila, avião, atração turística cheia, e vai ficar com preguiça logo na hora de comer?

